O trabalho e o saber docente: construindo a mandala do professor artista-reflexivo
Work and teacher knowledge: building the mandala artist-teacher's reflective
Nesse livro, tentamos explanar algumas ideias e
questionamentos. Por exemplo, no capítulo 1, intitulado “Construindo a
primeira mandala - o trabalho docente”, temos como plano de fundo a
indagação: O que é preciso para ser um
“bom” professor?. Para tentar responder a pergunta, discutimos sobre o
trabalho docente num curso de formação de professores.
Já no capítulo 2, denominado de “Construindo a segunda mandala - primeira aproximação de uma tipificação dos
saberes docentes”, trazemos a discussão sobre a pergunta: Qualquer pessoa pode “dar aula”? No geral, a crença popular é que para ser professor “basta
saber a matéria”. Todavia, explanamos
os diversos saberes que os professores devem construir para formar sua
identidade profissional. Assim, defendemos que é indispensável uma formação
especifica para a docência.
Por fim, no derradeiro capítulo (“Professores
Artistas-Reflexivos: elementos teóricos-epistemológicos para o trabalho e os
saberes docentes baseado numa Associação de companheiros de ofício”) trazemos
alguns traços teóricos para alcançarmos uma formação de professores baseada nos
saberes docentes. Finalmente, destacamos nesse capítulo as associações de
companheiros de ofício.
O termo “mandala” está
relacionado ao círculo, uma representação geométrica da dinâmica relação entre
o ser humano e o universo, entre o micro e o macrocosmo. De fato, a síntese de
sua significação cabe na etimologia da palavra mandala, que vem do sânscrito, e
significa círculo (FRANCHI, 2002). Ela é um diagrama simbólico usado como um
instrumento para meditação, uma vez que atua como uma representação do cosmo,
um ponto de união das forças universais. As mandalas são constituídas por uma
imagem arredondada miscigenada por um padrão de forma que se repetem
simetricamente em torno de um ponto central. O contorno circular de uma mandala
parece expressar o divino e o mundano, a união e a desagregação.
Metaforicamente, da
mesma forma que a mandala visa uma união entre os
contraditórios do universo espiritual e mundano, nossa
meta com esse livro é a construção de uma síntese dialética inicial das
diferentes correntes de pensamento sobre a profissionalidade docente.
A
mandala é uma forma conectiva de
saberes parceiros, num diálogo teórico que é, ao mesmo tempo, harmônico
e desarmônico, possuindo como característica a “impureza” teórica. Assim, nosso
caminho será guiado por essa mandala, a qual apresenta algumas considerações
sobre as técnicas que funcionam como coleta de dados, num diálogo com o mundo
concreto. Considerando a mandala como uma "impureza" teórica e
metodológica (FROW; MORRIS, 2006), ou seja, atividade fruto de uma escolha
política dos pesquisadores em usar diferentes estilos discursivos, admitimos
que esse é um ponto importante para nossa reflexão crítica. Recorremos a
“impureza” das metáforas, ao utilizar o termo mandala, reconhecemos que ela
funcionará na pesquisa como parte do referencial teórico, funcionando como base
para construirmos o nosso edifício reflexivo.
Para
respaldar nossa escolha, trazemos o pensamento de Maffesoli (1988), no qual a
metáfora tem um papel excepcional na pesquisa e na análise teórica, pois ela
integra os sentidos à progresso intelectual. O autor afirma que “ela se situa
exatamente a meio caminho entre o lugar ocupado pelo sentido na vida social e
sua integração no ato de conhecimento” (p. 21). Nessa visão, temos um relevante
interesse epistemológico para nosso trabalho, o qual pondo em jogo metáforas,
analogias, poderá ser um vetor de conhecimento (idem, p. 192).
Ainda,
apresentamos as ideias de Morin (2000, p. 91-92), ao se referir sobre esse
assunto. Mesmo sendo uma citação deveras longa, acreditamos que ela é
importante para esclarecer nossas concepções:
Uma metáfora revela a visão ou a percepção que se tornaram
clichês. É nesse sentido que um poeta diz: “A realidade é um clichê do qual
escapamos pela metáfora.” A metáfora literária estabelece uma comunicação
analógica entre realidades muito distantes e diferentes que permite dar
intensidade afetiva à inteligibilidade que ela apresenta.
Ao levantar ondas analógicas, a metáfora supera a
descontinuidade e o isolamento das coisas. Fornece, frequentemente, précisées
que a língua puramente objetiva ou denotativa não pode fornecer.
Ressaltamos que essa é uma obra inicial, com apontamentos
primeiros, longe de ser um pensamento acabado. Para alcançar tal empreita,
iremos iniciar com as ideias mais tradicionais sobre o trabalho do professor.
Cabe alertar que, de uma forma muitas vezes implícita, carregamos algumas
dessas ideias sobre a profissão docente.
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